9.7.07

O Idalécio e o Manel Boia - Ao reencontro de uma origem gandaresa



O titulo podia ser de uma antologia do escritor Idalecio Cação. Mas não o é!

O Idalécio Cação e o Manel Boia, primos direitos e vizinhos, nasceram em Lafrana, no concelho da Figueira da Foz. O Idalecio e o Boia cedo se fizeram à lavoura no campo gandarês. Todavia, o destino foi divergente para cada um deles.

O Idalecio foi um dos quarto alunos, da freguesia, que conclui a quarta classe e prosseguiu nos estudos. O poder económico de seu pai permitiu-lhe fugir à enxada aos vinte um anos de idade. Licenciou-se em filologia romana pela faculdade de letras de Coimbra e dedicou-se ao ensino. Anos mais tarde devotou-se à escrita. Escreveu obras de poesia, ficção, ensaios, linguística e antologias. Colaborou também na imprensa portuguesa, galega e brasileira. A sua ligação à terra, à Gandara, sempre o acompanhou e traduziu-se nas suas obras. É ele, hoje, um dos maiores conhecedores e divulgadores de um pequeno e tamanho povo.

O Manel Boia licenciou-se na cultura do campo gandares e tornou-se mestre no manuseamento das alfaias agrícolas. Trabalhou nas ivernadas lá na Borda d`Agua, no Ribatejo. Apanhou palha de arroz em Foja, nos campos do mondego.

Foi através de uma entrevista informal com o Idalecio Cação que recordei o tempo em acompanhava os meus familiares na lavoura do Campo. Na recolha da palha do arroz, ao moliço nos pinhais, ao pasto molhado pelo orvalho matinal e à apanha da batata. Viajei até às leiras do milho onde lançava, pelas regadeiras afora, pequenos barcos construídos com as suas folhas. Através do exercício de memória do Idalecio, senti o meu verdadeiro apego à Gandara. Surgindo então em mim um forte sentimento de afeição ao campo e a um povo rico em força, trabalhador e puro, mas por vezes carrancudo.



No rosto do Idalecio, revi um homem. Alto, astuto e composto, embora debilitado devido a um acidente rodoviário. Relembrei as manhas de domingo passadas com ele na fonte e no barbeiro de Santo Amaro. Recordei a sua boina castanha, a sua bengala, a sua barba branca antes da ida ao barbeiro. Mas pouco sei sobre ele.
Recordei o meu Avô, o Manel Boia da Lafrana.

2 comentários:

Manel disse...

Caro Tiago,
Sábado à tarde, na Praia da Tocha, em conversa com o meu amigo Cação, aquele que sorriba as letras da Gândara, o Tiago Cação esteve, também, na nossa conversa.

Anónimo disse...

Caro Tiago,

Encontrei por acaso o seu blog, enquanto pesquisava um ramo da minha Árvore Genealógica - "Bóia".

Pelo que percebi, este Post menciona o seu avô... Sabe se por acaso o seu Manel Boia tem um sobrenome de família ou é apenas alcunha?

helenaboia@mail.pt